sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Falta de água tratada em Juiz de Fora

Apesar de a Cesama ter apresentado índices considerados excelentes pelo Instituto Trata Brasil no que diz respeito ao tratamento de água (98%) e à coleta de esgoto (97%), uma parte dos cidadãos juiz-foranos ainda é privada destes serviços. No núcleo urbano de Caeté, no distrito de Sarandira, cerca de 80% da comunidade não recebe água tratada e não tem um sistema adequado de coleta de esgoto, que muitas vezes é jogado diretamente em córregos que cortam a região.

A água sai de um reservatório localizado em uma fazenda dos arredores e é distribuída na comunidade por meio de uma tubulação antiga. Segundo a presidente da Associação de Moradores, Sebastiana Alves, o sistema foi instalado na época do mandato de Melo Reis (1977-1982). O líquido não passa por tipo algum de tratamento e, muitas vezes, as residências chegam a ficar desabastecidas por dias.

É o que acontece na casa da dona de casa Inês Pinheiro, 45 anos. Pela manhã, ela se dirige com baldes a uma torneira na porta de sua casa, na Rua Luiz Gonzaga Merotto. "Tenho que garantir a água do dia, porque aqui em casa dificilmente chega, não tem jeito. Só consigo na torneira, porque ela fica em um ponto mais baixo." A rotina de Inês é a de muitos moradores da via. Mesmo racionando, a aposentada Maria das Graças de Souza Silva, 58, fica sem abastecimento. "Tem dois meses que preciso economizar, porque só 'cai' um pouquinho por dia. Às vezes, falta até para dar descarga, é um horror."

Além da escassez, a população reclama da qualidade da água que sai de seus canos e torneiras. "É suja, meio amarelada, quase marrom. Às vezes não dá nem para lavar roupa. Beber, nem pensar, acho que ninguém tem coragem", desabafa Marta Lúcia de Assis, 48, também residente da Rua Luiz Gonzaga Merotto. A situação na rua é agravada pelo lançamento de esgoto em um córrego que atravessa a região. Na casa ao lado do curso d'água, o odor às vezes fica insuportável. "Minha mãe mora ali, e em pleno verão, é preciso fechar as portas e janelas para aguentar ficar em casa, o cheiro é insuportável e deixa qualquer um enjoado", revela Marina Lúcia Gomes, 54.

A população de Caeté também está sujeita ao contágio de doenças pela ingestão ou contato com a água contaminada. Segundo o chefe do departamento de infectologia do Hospital Universitário (HU), Rodrigo Daniel de Souza, os surtos diarréicos estão entre as moléstias mais comuns em áreas carentes de tratamento de água, o que pode já estar acontecendo em Caeté. "Vez ou outra aparece alguém com o intestino ruim, dizendo que é virose. Mas pela quantidade de gente do mesmo lugar, deve ser a água que está ruim mesmo", diz Inês Pinheiro, 45. Como o esgoto é lançado diretamente nos mananciais, há risco da população ingerir água contaminada por coliformes fecais. "Como o abastecimento de água é precário, as pessoas podem recorrer a água de mina, sem saber a procedência." O médico alerta que o simples contato com a água infectada pode causar danos à saúde, como verminoses contraídas através da pele, alergias e outros problemas dermatológicos.

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