terça-feira, 25 de outubro de 2011

Americanos rejeitam flúor na água para consumo humano

RIO - Prefeitos americanos declararam guerra à adição de flúor na água dos reservatórios que abastecem as cidades, embora as autoridades de saúde nos EUA defendam o uso da substância, como forma de reduzir em 25% o índice de cáries na população.

Há duas semanas, Pinellas County, na Flórida, votou contra a adição de flúor em seu abastecimento de água potável, segundo reportagem do jornal "The New York Times". O município junta-se a pelo menos outros 200 que, da Geórgia ao Alasca, optaram por acabar com a prática nos últimos quatro anos, motivados pelos orçamentos apertados e pelo ceticismo sobre seus benefícios. Muitas das decisões foram tomadas depois de extensas consultas a cientistas, médicos e dentistas.

Mas o Serviço de Saúde Pública dos EUA e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) garantem que essas comunidades estão equivocadas. O governo americano continua a recomendar a adição de flúor à água, desde os anos 40. Hoje, 72% da população do país bebem água com flúor. Para as autoridades, essa substância é importante porque muitas pessoas não podem pagar dentistas.

- A fluoretação ajuda grupos de renda que não têm acesso a tratamento dentário - diz William Bailey, diretor da área dental do Serviço de Saúde Pública.

Mas o movimento contra a fluoretação aumentou porque o próprio governo americano divulgou um relatório alertando para o efeitos nocivos do excesso de flúor na água. Esta prática seria responsável pelo aumento no número de casos de fluorose dental, que causa manchas brancas ou amareladas nos dentes. Cerca de 40% das crianças com idades entre 12 e 15 anos tinham fluorose dental, de 1999 a 2004. Esse percentual era de 22,6% num estudo de 1986 a 1987.

Os que condenam a fluoretação dizem que os dentes manchados pela fluorose são um aviso de que outros ossos do corpo podem estar absorvendo excesso de flúor. Este excesso leva ao aumento do risco de fraturas ósseas em adultos, bem como dores.

- Os dentes são a janela para os ossos - diz Paul Connett, professor aposentado de química ambiental e diretor da Fluoride Action Network, que defende fim da água com flúor.

Um possível aumento do número de casos de fluorose dental, dizem especialistas, pode ter sido ocasionado pela água fluoretada consumida em vegetais e frutas, sucos e outras bebidas, bem como a água da torneira. E o consumo de bebidas continua a crescer. Além disso, os críticos do flúor dizem que a substância já está presente em boa quantidade de pastas de dentes e produtos de enxágue bucal. E adicioná-la à água é algo impreciso. A maioria concorda que o flúor age melhor quando aplicado diretamente sobre os dentes.

Diante da polêmica, o governo americano recomendou, em janeiro, a redução do flúor colocado na água para 0,7 miligramas por litro de água. Por muito tempo, o padrão americano variou de 0,7 a 1,2 miligramas por litro.

No Brasil, o Ministério da Saúde adota a mesma medida há 36 anos, seguida à risca pela companhia de abastecimento Cedae, no Rio: a adição de flúor na água varia de 0,6 a 0,8 miligramas por litro de água (ou partes por milhão). É o que garante Jorge Briard, diretor de Produção e Grande Operação da empresa.
- Em níveis abaixo de 0,6mg na água, o flúor não tem o efeito benéfico para a prevenção da cárie dental. É o que mostram os estudos específicos sobre a ação do flúor nos dentes. E acima de 0,8mg, qualquer excesso pode ser nocivo e levar à fluorese. Aqui no Brasil seguimos esta recomendação à risca. Nossos equipamentos são regulados para detectar alterações para mais ou para menos na quantidade de flúor na água - esclarece Briard. - Ao contrário do cloro, o flúor não é residual. A sua concentração é a mesma em todo o sistema.

Por falar em cloro, usado como desinfetante no sistema de abastecimento de água, Briard diz que ele não oferece risco à saúde do consumidor:
- Pela legislação brasileira, os valores de cloro residual podem variar de 0,2mg por litro a 5mg por litro. Mas a nossa média está longe desse limite. O cloro deixa efeitos residuais e sua quantidade na água se altera entre o reservatório e o abastecimento em casa. Mesmo assim, quem mora mais perto das redes de abastecimento chega ter até 2,5mg/l.

Ele garante que a água fornecida pela Cedae é de excelente qualidade. O problema é que muitos moradores e condomínios não fazem a limpeza correta e periódica de suas caixas d' água e seus reservatórios.
Para especialistas, a higienização das caixas e dos reservatórios é a melhor forma de garantir uma água de boa qualidade. E se tiver que usar filtro, é melhor optar pelo de carvão ativado, que retém mais resíduos, como cloro.

O dentista Mario Kruczan, da Sociedade Francesa de Periodontia e da Federação Europeia de Periodontia, defende a fluoretação na água. Ela foi responsável pela diminuição considerável dos índices de cáries no Brasil, que algumas regiões chegava a 60%, afirma.
- O índice de flúor aceito nas águas de abastecimento é de 0,7mg a 0,8mg por litro e deve ser muito bem monitorado para evitar a fluorose - alerta.

Fonte: Jornal O Globo, 21.10.2011

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